terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Esteira plural

Embora não tenha a capaciade do entusiasmo militante do Jacinto Rodrigues, e até tenha algumas dúvidas metódicas sobre este tipo de iniciativa, o certo é que parece querer criar-se uma dinâmica que seria pena perder-se. A minha posição sobre a "esteira" é plural: Cabem acções militantes de "transformação do mundo", mas também iniciativas analíticas e reflexivas (que ajudem a perceber o rumo dessas iniciativas) e testemunhos de diversa ordem.
É difícil resistir ao entusiasmo do "nosso moderador" e pela minha parte estou disponível para contribuir que esta iniciativa se cruze com outras.
É claro que é necessário estruturar um pouco mais estes gestos voluntaristas e caso se justifique (depende da adesão) organizaremos um encontro para partir pedra...
Digam de vossa justiça e até lá ...

Impressões de Luanda 2

Tomo algumas destas notas ainda em Luanda, numa sexta-feira pastosa que invade a cidade e de um cheiro que quase nunca é bom, mas podemos imaginar como poderia ser florido e fresco, sobretudo à noite

Noite, como muitas vezes falta a luz àquela hora. Arrancam os geradores num barulho que sufoca o ar. Quantos geradores estão trabalhar esta noite e a queimar não sei quantas toneladas de combustível? O que pensam os países viciados numa economia de guerra, alimentada pelo petróleo?

Impera o desperdício: da água que enche tanques e vaza, dos milhares de carros lavados todas as manhas, dos ares que nunca se desligam, das luzes que nunca se apagam.

Consta que ¾ população vive com 15/20 litros de água por dia, numa correria entre bidons amarelos e o processo 500. Para quantos pneus chegam 15 litros?

Claro que o mundo não é só injusto em Luanda, mas tudo se torna mais insuportável quando o confronto é a mais descarada opulência, mal formada, e a exibição atrevida da vacuidade num clima de orgia permanente. Mesmo que antes seja necessário atravessar o inferno pestilento da Samba até chegar ao embarcadouro.

Hoje finalmente faltou água em casa, os tanques esvaziaram sem que se soubesse que há dias faltava na cidade. Como se sabe em Luanda não fica bem ver a TPA e por enquanto as TVs brasileiras e a “SIC 10 horas” ainda não dão notícias sobre a falta de água em Luanda. É uma azáfama e uma fonte de receita para a casa da esquina que tem um poço.

Luanda surge como um imenso bairro de lata intercalada por pequenos oásis e por um subúrbio novo, rico, fechado e árido que foge para sul. Choveu e as inundações sobressaem. Estradas que são lagos de chuva, lixo e esgotos.

Fervilha uma actividade construtiva e de serviços, de negócios e de oportunidades. Chineses, brasileiros, portugueses, indianos e claro angolanos antigos e recentes. Uma ponte, uma escola, duas fábricas e três estruturas metálicas. Ganha quem tem mais força? quem chega primeiro? quem conhece melhor os meandros da “gasosa”? Ganham, para já, todos... incluindo-se naturalmente os luandenses que podem, pelo menos, deslumbrar-se com os primeiros sobressaltos de uma sociedade de consumo e respirar um ambiente menos claustrofóbico.

A nova moda e ícone de sucesso é a segurança privada, a esturricar sentados em cadeiras de plástico e a fazer candonga com o estacionamento. Parece que a eficácia em termos de segurança é duvidosa. Por vezes estão feitos com os bandidos ou são os primeiros a ser amarrados e a levar umas chapadas

Em Luanda como se sabe há muitos “Jeeps” grandes, mas encontrei um que exibia um grande ícone revolucionário e vi rituais que engasgam o mais passivo dos seres. O nosso revolucionário, o do Jeep, atravessa em pontas o charco que envolve a viatura após a barrela matinal e num saltinho pesado atinge o assento, as pernas ficam bamboleantes à espera....que o “moço” que lava o carro lhe limpe as solas!

Felizmente Luanda não é só isto. Há o Minho do meu avô africano, lá onde se reinventa o Kwanza, ritmos que caiem sobre rios de liberdade, a Barra do Dande e gente que ama e estuda o deserto.

3 comentários:

Terra disse...

Álvaro:
Fantástico o teu relato sobre Luanda! Realista, sóbrio e com o humor que me agrada a temperar a crítica que também gosto de fazer.
É mesmo importante mudar. Mas como vencer a arrogância esbanjadora de um sistema insensível à causa ecológica (ainda abaixo de tantas outras)?
Lá teremos nós que "inventar"; não a solução, mas uma estratégia, ao menos...
Um abraço colibri cokwe

Alvaro Pereira disse...

N'ga sa kidila....colibri cokwe!
Vamos à estratégia.

eK

jawaa disse...

Na verdade já tinha lido este texto na PHWO e estou-lhe grata por me ter encaminhado para este lugar.
Já aprendi o que é a Moringa, de que nunca tinha ouvido falar, mas o que me leva a escrever estas linhas é para dar graças por haver ainda quem tenha estratégias para a ESPERANÇA!
Força e obrigada, Colibris, pq Angola tbém é a minha terra natal.

 
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